Gris



O sol hoje nasceu esquisito. Nasceu e mesmo assim não está. Está lá a luz amarela, fria que não aquece. A chuva veio; uma chuva que de tão fina não molha. Só está ali, formando nuvens. Nuvens que escondem o céu. Eu me levantei, o corpo reclamando a cama quente. Como todos os dias me vesti, engoli o café com leite e saí, enfrentando as paredes de concreto.
Como é possível de repente nada mais fazer sentido? Como é possível de repente ser fugitivo de si mesmo? E a angústia ficou plastificada. E as feições endureceram. E o coração... sei lá onde se escondeu.


Ronca o motor do carro nas filas intermináveis do engarrafamento. Os solitários carros incomunicáveis, vidros fechados para o horizonte.

“Tio, tem uma moeda?”


Carro parado no meio-fio úmido, passos largos, olhos perdidos no cinza. O crachá pesa no pescoço. Corro ocupar a mesa de todos os dias, atando os dedos ao teclado. Nascem ondas de papel da impressora. Engolir o café, amassar o copinho de plástico para livrar-se da raiva. O copinho vai para a lixeira, a raiva continua ali angustiando, brincando por dentro de mim. E o copinho estraçalhado.


Um telefone interrompe o barulho insuportável do silêncio. Na mesa, castelos de sulfite... E os dedos condicionados digitando, digitando, digitando sabe-se lá o quê. Um formulário, um relatório, um martírio.

(Atrás das nuvens escuras um céu azul acolhe um sol cheio de calor, que esconde-se ali do mundo dos homens.)

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Hoy el sol nació extraño. Nació y aún así no existe, no se nota. La luz amarilla puede verse, pero es fría, no calienta. Llega la lluvia, una lluvia que de tan fina no moja. Sólo se encuentra allí formando nubes. Nubes que ocultan el cielo. Me levanto, el cuerpo reclamando aun por la cama caliente.


Automáticamente me visto, tomo mi desayuno y salgo enfrentando las paredes grises y el gris del concreto. ¿Como es posible que de repente todo carezca de sentido? ¿Como es posible que de repente uno se transforme en fugitivo de si mismo? La angustia queda plastificada. El semblante endurece. Y el corazón...sabe Dios donde se esconde.

¨
Se oye el zumbido de los motores de los autos en las interminables
filas de los atascos. Los autos solitarios, incomunicables, vidrios cerrados al horizonte.


- ¿Tío, me da una monedita ?


El auto parado al lado del cordón húmedo, pasos largos, ojos perdidos En el cuello pesa la tarjeta de identificación. Me apresuro a ocupar el escritorio de todos los días, atando los dedos al teclado.


Surgen olas de papel de la maquina impresora.-Tomar el café, aplastar el vaso plástico como para liberarse de la rabia.- El vaso va a parar al cesto de papeles y la rabia continua allí, angustiando como jugando dentro de mi cuerpo. Y el vaso desmenuzado.
La campanilla de un teléfono interrumpe el ruido insoportable del silencio. En el escritorio, pilas, torres, castillos de papel sulfita...Y los dedos condicionados digitando, digitando, digitando, quien sabe que. Un formulario, un informe, un martirio.

(Detras de las nubes oscuras un cielo azul recibe un sol lleno de calor, que se esconde allí del mundo de los hombres.)

(versión en español por Jorge Abril)

Comentários

Unknown disse…
Vim fazer uma visita e conhecer as outras facetas desta outra Amélie. Que como eu, aprecia os Gris, o Lilás, o Azul.
Parabéns. Seu blog é um luxo.
Deborah da Silva disse…
Começou apocalíptico como Byron e terminou casual como Clarice.
eSSa é minha Amèlie!
beijos!

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